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  • Foto do escritorGabriela Savóia

Carnaval X Trabalho



O ano começou agora! Dizem os carnavalescos que o ano só começa depois do carnaval e, para o bem ou para o mal, eis que começamos a computar para valer o início de 2022.


Só tem um problema… A festa de carnaval brasileira, amplamente conhecida e reconhecida aqui e em outros países, não acontece há dois anos. Isso porque o mundo foi assolado pelos desdobramentos da pandemia ocasionada pelo Covid-19.


Excetuando o caráter religioso e universal atribuído à festa mais popular de nosso país, o carnaval gera renda à população mais empobrecida e que forma a base dos trabalhadores no Brasil. Pessoas que trabalham na confecção de fantasias e adereços para escolas de samba, trios elétricos e artistas famosos, informais que ganham a vida vendendo produtos destinados à festa (inclusive alimentação), sem falar no comércio popular formal que também tira seu quinhão com a data, deixaram de ganhar desde o início da pandemia.


Para se ter uma ideia, em 2020, segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o Carnaval movimentou cerca de R$8 bilhões na economia brasileira, o maior valor desde 2015. “Nos meses que antecedem o carnaval, a taxa de câmbio teve uma desvalorização de 10% ante o mesmo período de 2019, estimulando, portanto, gastos com turismo no território nacional, em 2020”, avaliou o economista da CNC responsável pela pesquisa, Fabio Bentes.*



Ainda falando em dados, na matéria publicada pela Folha de São Paulo em 26/02/22 , Fábio Bentes disse que “Um bloco na rua, por exemplo, movimenta uma cadeia de trabalhadores que vai desde locadores e montadores de trios elétricos a vendedores ambulantes e catadores de materiais recicláveis”.


Só em São Paulo, por exemplo, foram abertas 12 mil vagas temporárias para vendedores ambulantes de bebidas em 2020. Com o cancelamento dos blocos e o adiamento do desfile na cidade não há qualquer garantia de lucro com a folia para essas pessoas.


Não são apenas os vendedores que sentem o impacto das ruas vazias durante o carnaval. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), Roberto Rocha, a folia é a época do ano mais importante para os catadores: "O período das festas sempre foi uma excelente oportunidade de renda extra. E esse 'plus' está fazendo uma baita diferença na vida de muitas famílias", . Ainda segundo Roberto, outro fator importante foi que: "No ano de 2020, fizemos uma parceria com o setor de bebidas e alimentos e, além do valor recebido nas cooperativas pelo material coletado, os trabalhadores ainda ganharam pelo serviço de limpeza", complementa.**


Como profissional de recursos humanos fico profundamente chocada e consternada com esse cenário e com os dados apurados e listados acima. O setor cultural tem grande impacto na economia do país e, como dito anteriormente, gera trabalhos formais e informais que subsidiam a vida de uma grande parcela da população.


Quando um evento dessa magnitude não acontece como esperado, os impactos negativos são enormes para a economia, mas, certamente, são sentidos com mais dureza pelos trabalhadores de base.


Nesse ano de 2022, o carnaval foi cancelado. Será mesmo?


Sob o argumento de se evitar aglomerações e grande circulação da população em espaços públicos e, dessa forma, evitar uma um aumento da disseminação de Covid-19 (como ocorrido no carnaval de 2020), grande parte dos estados brasileiros “cancelaram” sua tradicional festa.


Mas e as festas privadas e blocos (furando a determinação dos estados e prefeituras) que saíram às ruas? Ah, sim… sobre isso podemos dizer que o carnaval aconteceu para aqueles que podiam desembolsar, em média, R$ 600 ou até R$ 1.500 para curtir com tranquilidade e garantias, a festa pagã mais esperada do país, ou seja, trabalhadores informais foram amplamente impactados pelo segundo ano consecutivo sem a festa e a massa da população não pôde se juntar à pequena parcela de privilegiados que pagaram pelo seu ingresso.


Pois bem, o ano começou finalmente, mas para grande parte da população brasileira as dificuldades são as mesmas: a escassez de empregos continua e apenas uma ínfima parcela da população tem acesso à educação, alimentação, saúde e lazer.


O que será que nós, profissionais de RH, podemos fazer dentro dos espaços de privilégio que ocupamos para enfrentar e modificar essa lógica de desigualdade social, econômica e mercadológica? Que tal pensarmos juntos?


Bom 2022 para tod@s (as/os/es)!



**Fonte:





Gabriela Savóia


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