Hoje eu trago um relato bem pessoal como forma de encorajamento a muitas e muitos profissionais que podem estar vivendo o que eu vivenciei e, também, como alerta às áreas e profissionais de RH acerca de sua relevância em casos como o meu e o de tantas outras pessoas.
Há bem pouco tempo eu tive uma das melhores notícias da minha vida: eu venci o câncer. Foi um processo longo, difícil, pesado e muito cansativo em que, pasmem, o TRABALHO foi um dos meus maiores aliados na minha luta.
Evidente que eu tive inúmeras dificuldades e até “queda de desempenho”, além de ter contado com o apoio e a paciência fundamental de todos que trabalharam ao meu lado enquanto eu estava fazendo meu tratamento oncológico contra um linfoma não-Hodgkin.
Leio muito pouco nas redes e publicações em geral sobre como é a vida de um trabalhador que passa por doenças sérias, motivo que me trouxe encorajamento para tocar nesse assunto tão sensível. É tão penoso estar com uma doença que ainda ameaça muito a vida e é cercada de tantos mitos e achismos - as emoções ficam à flor da pele e o físico não colabora.
Acordar todo dia com algo a mais para lidar e fazer, para além do tratamento e de todas essas condições, se torna uma corda salvadora essencial. Claro que muitas etapas do tratamento exigem que você pare e se dedique intensamente, até mesmo pelos inúmeros efeitos colaterais. Mas se um profissional se sente disposto para o trabalho, só peço para que não tenham pena e nem o inviabilizem de trabalhar. Apoiem e escutem, mas não o impeçam de tocar as duas coisas ao mesmo tempo.
Enxergo a área de Recursos Humanos de uma empresa como um braço estratégico do negócio, mas sempre sob o prisma do capital humano. E refleti muito sobre todo o período em que estive doente sobre como essa área pode atuar nessas situações. Além do apoio burocrático em licenças e afastamentos que poderão ser necessários, há que se dedicar um tempo para entender o funcionário que está passando por essa problemática, avaliando tanto as questões que o impedem de trabalhar em alguns momentos, quanto as questões em que o trabalho pode alicerçar a cura.
Torço para que possamos falar mais sobre o tema, ouvir pessoas que passaram por isso e promover trocas entre RHs de empresas sobre estratégias de apoio e ressignificação da importância do trabalho para o processo de enfrentamento.
Para quem me lê e está passando pelo que eu já passei: acredite que vai dar certo, acredite na sua força para que isso aconteça. Não se esforce mais do que você consegue, mas também não se entregue totalmente aos caprichos da doença. Procure no trabalho e nas rotinas pessoais que te fazem bem toda a força que conseguir achar para manter a mente confiante e o corpo em movimento. Eu, ex-combatente do câncer, desejo e torço pela sua vitória, que envolverá a cura do corpo e da alma, além de transformações inimagináveis nos seus pensamentos, atitudes e forma de encarar a sua vida e, até mesmo, a sua carreira!
Por Mayra Fragiacomo