O Mundo Corporativo na “sétima arte”
- Gabriela Savóia
- 11 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Para quem gosta de cinema e vê, nas séries de streaming, uma alternativa à “sétima arte”, indico fortemente a francesa (que mais parece uma novela, das boas!) “Dix Pour Cent” (tradução livre significa “dez por cento”)
O título de 2015, disponível na Netflix ou na Amazon, é uma comédia dramática que relata o cotidiano de profissionais de uma agência de talentos em Paris. O trabalho consiste em captar e gerenciar a carreira de artistas iniciantes e estrelas (de qualquer segmento mas, principalmente, cinema) reconhecidas pelo público e pela crítica. Inclusive, o nome da série é “10%”, porque essa é a comissão que uma agência de talentos recebe em cima do salário integral de seus artistas.
As histórias se entrelaçam e são contínuas. A temática, apesar de muito interessante (não é sempre que vemos retratados profissionais que lidam com a casta do cinema francês), não é uma novidade. Afinal, o mundo do trabalho e seus excessos já foram retratados de diversas formas.
Filmes como “Que horas ela volta?” (Anna Muylaert), “Tempo Modernos” (Charles Chaplin), “Uma Secretária do Futuro” (Mike Nichols), “Metrópoles” (Fritz Lang), “Wall Street – Poder e Cobiça” (Oliver Stone), “O Diabo Veste Prada” (David Frankel), “Monstros S.A.” (Pete Docter) e muitos outros, são exemplos de como o cinema, direta ou indiretamente se apropria de espaços corporativos para desenvolverem seus personagens e tramas. Creio que o motivo seja possivelmente a riqueza do tema e o impacto que o trabalho gera na vida das pessoas.

O mundo corporativo reúne uma gama de personas e realidades que convivem e dividem, cotidianamente, seu tempo, energia e capacidades cognitivas, criativas e emotivas. Certamente, esse caldeirão de pessoas juntas num mesmo ambiente, sem tempo para viverem suas vidas pessoais e impactadas pelo desgaste que o trabalho provoca, não pode dar em boa coisa, principalmente se mal gerenciadas e tendo sua humanidade e individualidade ignoradas, em prol de um único bem comum: os interesses de uma corporação.
Mas, para a arte do cinema, isso é um celeiro de possibilidades!
“Dix Pour Cent” aproveita ao máximo esse caldeirão de pessoas e retrata, por vezes, de forma cômica, dramática, sentimental, afetiva e até nostálgica, os impasses de homens e mulheres que dividem entre si a vida atravessada por metas, baixos salários, questões raciais, ageismo, machismo, falta de formação e meritocracia (num mercado eletivo e elitista), chefes abusivos e todo tipo de mecanismo corporativo que visa, apenas e tão somente, o lucro e as entregas, de modo a favorecer e fomentar um ambiente adoecedor e inescrupuloso.
O mais interessante da série é que esse desgaste do trabalho e as cobranças do mundo capitalista impactam até artistas renomados e grandes estrelas do cinema: Isabelle Ruppert (“Elle”, 2016, e “A Professora de Piano”, 2001); Jean Reno (“O Profissional”, 1994); Monica Belluci (“Irreversível, 2002, e “007 Contra Spectre”, 2015); Sigourney Weaver (“Alien”, em todos os títulos, e “Uma Secretária do Futuro”, 1988) e muitos outros e outras que participam de forma especial e pessoal (com sua identidade) de cada episódio, dividindo com seus agentes suas mazelas e dificuldades com a indústria cinematográfica.

Super recomendo e espero, muito em breve, assistir uma produção que traga um retrato mais humano e equacionado dos espaços corporativos. Enquanto isso não acontece, vamos trabalhando para esse dia chegar e nos divertindo um pouco com séries deliciosas como essa.
Quem aí já assistiu? Deixe seu comentário e comente qual filme relacionado a esse universo retrata melhor o seu espaço de trabalho.
Por Gabriela Savoia
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